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Praça Castro Pinto

Abandono e insegurança imperam

publicado: 08/10/2025 08h23, última modificação: 08/10/2025 08h23
Antigo cartão-postal, espaço hoje é marcado pela presença de usuários de drogas e falta de ação efetiva do Poder Público
Abandono da Praça Castro Pinto_F. Evandro (6).JPG

Pessoas que precisam, inevitavelmente, passar pela localidade, relatam diversos eventos de perigo. Uma das consequências do medo foi o fechamento do quiosque localizado na praça | Fotos: Evandro Pereira

por Lilian Viana*

“Não pode tirar foto, não! Pode sair daqui, está ouvindo?!? Eu vou lá na outra rua e, quando eu voltar, quero todos vocês fora daqui, ou terão problemas comigo!”. O tom ameaçador partiu de uma usuária de drogas que instalou-se na Praça Castro Pinto, no Centro de João Pessoa, enquanto segurava uma placa com o pedido “Me ajude, estou desempregada” e pedia dinheiro no semáforo da Rua das Trincheiras. A cena, vivenciada pela equipe de reportagem do jornal A União, sintetiza o atual estado de abandono e insegurança de um dos espaços públicos mais tradicionais da capital paraibana.

O que antes foi um ponto de convivência, lazer e cultura, hoje é território de medo. O acúmulo de lixo, os buracos, as pichações e o mato alto dão o tom do descuido. Mas o maior problema, segundo frequentadores e moradores da região, é a presença constante de andarilhos, pessoas em situação de rua e usuários de drogas. 

Desde o fechamento de um hipermercado que ficava ao lado da praça, em junho de 2023 — após mais de quatro décadas de funcionamento no local —, o equipamento e seu entorno apresentam um cenário de abandono. “Nem o quiosque resistiu”, lamenta um idoso de 68 anos, que preferiu não se identificar. Ele, morador de Jaguaribe, confessa, ainda, que só transita no espaço porque não tem opção. “Eu só passo pela manhã, que tem menos gente na praça. À noite, é tomado por usuários de drogas e assaltantes. Eles ficam em toda a frente de onde funcionava o Hiper Bompreço”.

O medo é compartilhado por quem, por necessidade, precisa circular na área ou mesmo para quem chegou ali por acaso, a exemplo de um mototaxista por aplicativo, que também pediu anonimato. “Eu parei aqui sem querer, só porque deixei uma pessoa na rua de trás e decidi aguardar uma corrida. Mas já vou embora. Aquela mulher ‘pegou ar’, não foi? Vou correr antes que ela volte”, relatou, fazendo referência à mulher que ameaçou a reportagem.

Durante o tempo em que a equipe do jornal A União esteve na Praça Castro Pinto, apenas duas pessoas foram vistas utilizando o ponto de ônibus que fica em uma das esquinas: a auxiliar administrativa Juliane Oliveira e a dona de casa Ana Lúcia Azevedo, ambas moradoras do Bairro das Indústrias. Elas costumam passar pelo local a caminho da Policlínica Municipal de Jaguaribe (antigo PAM de Jaguaribe), mas sempre em dupla — por segurança.

“Uma vez, precisei passar por aqui no fim da tarde, acompanhada de outra colega. Logo vimos que uma pessoa viria nos abordar para assaltar. Peguei um paralelepípedo e, quando ele veio para cima, joguei nele! Ele saiu todo arrebentado, mas se afastou. Ou eu fazia isso, ou sabe lá o que ele ia fazer com a gente”, conta Ana Lúcia, lembrando do episódio com nervosismo.

Juliane confirma o medo. “Por aqui, não tem quem me faça passar à tarde, muito menos à noite. Só passo pela manhã, porque tem movimento. Hoje até está mais vazio, mas tem dia que a gente atravessa a praça orando”.

Responsabilidade

A Polícia Militar realiza rondas no local de forma rotineira, com reforço em horários e dias estratégicos. Entretanto, sua atuação não inclui a remoção e nem acolhimento de pessoas em situação de rua, que são de responsabilidade da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP).

A reportagem tentou contato com as secretarias municipais de Segurança Urbana e Cidadania (Semusb) e Planejamento (Seplan) para obter informações sobre a segurança no local e possíveis projetos de revitalização da praça, mas não obteve sucesso, nem por ligação e nem pelo WhatsApp. Já o secretário de Preservação, Revitalização e Inovação do Centro Histórico, Thiago Lucena, informou que a Praça Castro Pinto está fora da área de tombamento e, por esse motivo, sua restauração não pode ser incluída no programa Viva o Centro.

Em relação às políticas públicas para pessoas em situação em rua no local, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (Sedhuc) de João Pessoa informou que realiza medidas intersetoriais, como o Serviço Especializado em Abordagem Social (Ruartes). As equipes do Ruartes realizam, diariamente, o trabalho social de abordagem e busca ativa, acolhimento da população em situação de vulnerabilidade e encaminhamento aos diversos serviços assistenciais da Secretaria, a exemplo do Centro POP, os quatro Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), na proteção de média complexidade; e as Casas Adulto I e II, Casa de Passagem da Pessoa Idosa e Casa de Passagem da Família, na alta complexidade. Além disso, atua com serviços da Secretaria de Saúde, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e o Consultório na Rua, formado por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, agentes sociais, e o apoio do Conselho Tutelar.

Essa busca ativa da Sedhuc é realizada de forma espontânea e, também, por meio de denúncias da população, que podem ser feitas por telefone (83 3214-3709), e-mail (programaruartes@hotmail.com) ou pelo aplicativo João Pessoa na Palma da Mão. O Ruartes oferece, ainda, um espaço físico, localizado na Rua Treze de Maio, no 508, no Centro de João Pessoa.

A Praça Castro Pinto já foi um dos cartões-postais da cidade. Após uma revitalização em 2010, o local voltou a ser palco de apresentações culturais, encontros de famílias e práticas esportivas. O projeto previa um ambiente moderno, com piso novo, bancos de madeira, iluminação ornamental, gramado e palmeiras imperiais. Na reinauguração, o poeta Sérgio Castro Pinto, neto do ex-governador que dá nome ao espaço, celebrou o retorno da praça à população.

Homenageado

João Pereira de Castro Pinto nasceu em Mamanguape, em 3 de novembro de 1863, e foi uma das figuras mais importantes da história política da Paraíba. Jurista, jornalista, professor e político, exerceu o cargo de governador do estado de 1912 a 1915, período marcado por crise financeira e disputas políticas intensas. Também atuou como deputado federal e senador, além de ter sido patrono da Academia Paraibana de Letras (APL) e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP).

Monarquista e abolicionista, Castro Pinto teve uma trajetória marcada pelo compromisso com o debate público e pela defesa de ideais progressistas em sua época. Após renunciar ao governo, em 1915, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se à advocacia e ao jornalismo. Faleceu em 11 de julho de 1944, aos 80 anos. Seu nome permanece vivo na história da Paraíba — não apenas na praça, mas também no Aeroporto Internacional de João Pessoa, que carrega sua memória.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de Outubro de 2025.