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comando vermelho

Ação contra grupo prende 24 pessoas

publicado: 01/10/2025 08h18, última modificação: 01/10/2025 08h18
Liderada pela Polícia Civil, Operação Asfixia também bloqueou R$ 125 milhões vinculados a integrantes de célula local
Operação Asfixia - divulgação PCPB (2).jpeg

Força-tarefa foi deflagrada ontem, para cumprir 26 mandados de prisão e 32 de busca e apreensão, na Paraíba e no Rio de Janeiro | Foto: Divulgação/PCPB

por Samantha Pimentel*

A Polícia Civil da Paraíba (PCPB) e o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do estado (MPPB), em parceria com a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ), deflagraram, na manhã de ontem, a Operação Asfixia. O objetivo da força-tarefa, que visou cumprir 26 mandados de prisão preventiva e 32 de busca e apreensão domiciliar, em ambos os estados, é descapitalizar o poderio financeiro que a facção carioca Comando Vermelho mantém em território paraibano.

Foram efetuadas 24 prisões (23 na Paraíba e uma no Rio), além de terem sido apreendidas drogas, veículos e armas de fogo. Com base nas investigações, a PCPB e o Gaeco ainda conseguiram o bloqueio e o sequestro de bens de integrantes da organização criminosa, em valores que ultrapassam R$ 125 milhões. O principal alvo da iniciativa, no entanto, segue foragido: trata-se de Flávio de Lima Monteiro, conhecido por “Fatoka” e considerado o atual líder da célula do Comando Vermelho na Paraíba.

De acordo com as autoridades, mesmo escondido em uma comunidade dominada  pela facção no Rio de Janeiro, Fatoka continua dando ordens para o cometimento de crimes na Paraíba — em especial, no município de Cabedelo, onde a célula do grupo criminoso tem atuado com mais intensidade. Outros integrantes da facção na Paraíba também estão sendo procurados em comunidades cariocas, para onde fugiram após diversas operações realizadas pela Secretaria da Segurança e da Defesa Social (Sesds) do estado.

Além de Cabedelo, as ordens judiciais executadas ontem, em território paraibano, incluíram alvos em João Pessoa, Santa Rita, Campina Grande, Cabaceiras e Nova Floresta. No estado, participaram da empreitada 150 policiais, divididos em 30 equipes, sendo 27 da PCPB e três do Gaeco. Durante as diligências, em Cabedelo, um dos agentes da PCPB foi ferido por estilhaços de tiros e encaminhado para o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa. Ele recebeu alta ainda ontem.

As apurações que resultaram na Operação Asfixia são da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da PCPB, com o apoio da Unidade de Inteligência Policial (Unintelpol), do Grupo de Operações Especiais (GOE), do Grupo de Operações com Cães (GOC) e da Delegacia Especializada de Combate à Circulação e Comercialização Ilegal de Armas de Fogo, Munições e Explosivos (Desarme).

Autoridades investigam ligação com prefeitura

Em entrevista coletiva à imprensa, concedida no final da manhã de ontem, o promotor de Justiça Daniel Dal Ponte, do Gaeco, relatou que as autoridades também investigam uma possível relação entre a célula criminosa liderada por Fatoka e um grupo político de Cabedelo, que incluiria uma funcionária fantasma da Prefeitura Municipal, Flávia Santos Lima Monteiro, apontada como elo entre a facção e os mandatários. Ela e alguns políticos já foram alvo de uma denúncia feita pelo Gaeco, junto ao Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de ligação com organização criminosa, uso de violência na coação por votos e peculato. Flávia está presa em João Pessoa.

Representantes da PCPB e do Gaeco concederam entrevista coletiva, ontem, em João Pessoa | Foto: Leonardo Ariel

Também presente na coletiva, o delegado da Draco, Elton Vinagre, detalhou que o processo investigativo sobre a atuação de Fatoka na Paraíba teve início há quase dois anos.

“Vínhamos maturando essa investigação, principalmente focando na parte financeira desse núcleo do Comando Vermelho. O nome da operação é Asfixia porque o objetivo é, literalmente, sufocar, descapitalizar as organizações, para que esse capital não financie o crime”, explicou o delegado.

Ele acrescentou que, conforme indícios, a célula criminosa teria movimentado mais de R$ 250 milhões, por meio de uma rede de laranjas e de empresas de fachada.

“Muitas vezes, pessoas sem antecedentes criminais são usadas como laranjas, para lavar o dinheiro do crime, e estamos dando essa resposta: nenhuma delas vai ficar impune”, ressaltou Elton.

Os alvos da iniciativa policial integrariam o núcleo gerencial da organização, além de áreas ligadas à lavagem de dinheiro propriamente dita e do núcleo operacional, envolvido nas ações diretamente relacionadas ao tráfico de drogas e a homicídios.

Diego Beltrão, delegado da Draco, apontou que a Polícia Civil da Paraíba segue trabalhando em conjunto com a PCRJ, com o intuito de localizar e capturar Fatoka. “E é extremamente importante, além de apreender armas e drogas, tirar esse dinheiro ilícito de circulação, já que é isso que fortalece essas organizações criminosas para adquirir armamentos e fomentar homicídios, roubos e outras ações”, frisou Diego, assegurando, ainda, que não estão sendo medidos esforços para combater o crime organizado no estado.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de outubro de 2025.