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raízes do brejo

Circuito chega à terra do labirinto

publicado: 10/11/2025 09h16, última modificação: 10/11/2025 09h16
Reconhecida por sua tradição em couro e bordado, Juarez Távora convida visitantes para três dias de agenda cultural
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Fotos: Carlitos Paraíba/Colaboração

por Camila Monteiro*

A programação da Rota Cultural Raízes do Brejo chegará, no dia 21 deste mês, ao município paraibano de Juarez Távora — a mais nova cidade a integrar o produto turístico, convidando o público participante a conhecer a produção local de dois artigos de destaque na região: o couro — considerado a segunda fonte de renda do município, com a confecção de chicotes e rédeas —  e o algodão colorido. Com uma população de 7.796 habitantes, segundo o Censo de 2022 do IBGE, Juarez Távora recebe o evento até 23 de novembro e, entre as atividades da agenda, promoverá a renovação da tradição do artesanato feito com o bordado labirinto (ou apenas labirinto).

“Estamos muito honrados em ter recebido o convite para integrar a rota cultural. Será uma oportunidade de divulgar a nossa cultura e o nosso artesanato, uma grande chance de mostrar o que Juarez Távora tem de melhor”, comentou o prefeito Wilson Evangelista. Ele afirmou que, além do pioneirismo na produção do labirinto, do algodão colorido e de peças de couro, a cidade chama atenção pela gastronomia típica: a galinha de capoeira e o rubacão são pratos tradicionais.

O secretário municipal de Cultura e Turismo, Fabrício Cabral, também celebrou a inclusão no Raízes do Brejo como um marco histórico. “Temos a consciência de que o evento vai trazer muito mais visibilidade para a nossa cultura e o turismo. É uma conquista, sobretudo, para o cidadão juarezense, dando a ele orgulho e pertencimento”.

Embora este seja o primeiro ano do município no circuito itinerante, a prefeitura aguarda um público significativo para a programação. “Temos uma expectativa de duas mil pessoas por dia, com um total de seis mil nos três dias”, informou o secretário. Os visitantes poderão conferir uma vasta diversidade de atrações, a exemplo de exposição de artes e atividades esportivas — como corridas de atletismo, ecopedal, voos de parapente e de asa-delta.

Desfile revigora a produção artesanal local

O grande atrativo da agenda em Juarez Távora será o desfile de moda que acontecerá no primeiro dia de evento, às 19h45, no Centro da cidade. Na ocasião, serão lançados novos produtos utilizando o couro e o algodão colorido, mas o principal objetivo é dar visibilidade às peças elaboradas com o bordado labirinto. A iniciativa visa contribuir para o resgate cultural dessa tradição artesanal, tanto para a criação de novos mercados para as labirinteiras quanto chamando a atenção das novas gerações para essa tipologia. 

Projeto visa resgatar o trabalho das labirinteiras | oto: Divulgação/Cooperativa Mista Agro-Artesanal

De fato, Juarez Távora já foi conhecida, entre as décadas de 1980 e 1990, como a “cidade do labirinto”. Esse trabalho manual era a principal fonte de renda para muitas mulheres da cidade. Hoje, grande parte da população é filha ou neta de labirinteiras, contudo, a atividade estava em vias de desaparecer, seja pela falta de estímulo por parte das artesãs, seja pelo desinteresse dos mais jovens por esse tipo de arte. Sim, arte, pois se trata de um ofício que demanda muito cuidado e tempo. Não é à toa que o bordado leva o nome “labirinto”; é necessário desfazer o tecido para reconstruí-lo. O grau de dificuldade e o período tomado para a finalização das peças, a propósito, foram alguns dos motivos que fizeram com que as gerações mais novas não se atraíssem tanto pela tradição.

A prefeitura viu, então, a necessidade de mudar essas circunstâncias, afinal, o labirinto está arraigado na história local. Além de apoiar as artesãs, a gestão municipal também integra o artesanato ao currículo escolar, investindo na educação para promover o conhecimento e valorizar o bordado nas salas de aula. Com a ajuda da arquiteta Patrícia Gigliola, integrante do Programa de Design e Inovação para o Artesanato, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e com o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de João Pessoa, novas ações foram desenvolvidas em favor do labirinto.

“Em Juarez Távora, encontrei um cenário bem triste, porque as labirinteiras estavam desistindo de fazer esse bordado, por conta da desvalorização do trabalho, com a questão dos materiais industrializados. A renda vinha perdendo espaço”, explicou Patrícia, que propôs a realização de um trabalho colaborativo para retomar o desenvolvimento da tipologia e proteger sua cultura. “Foram realizadas oficinas para recuperar a autoestima das mulheres. Eu as levei para conhecer outras cidades, mostrei a importância de preservar a cultura. Foi o início do resgate dessa história”.

A partir dessa iniciativa, que ainda contou com a participação das designers de interiores Vanessa Lucena e Juliana Pontes, foi montado o desfile “Tecendo Cactos”, que apresentará, na passarela da Rota Cultural Raízes do Brejo, uma coleção de bolsas, acessórios e vestuários. “Vamos jogar com os três elementos da cultura de Juarez: o couro, o algodão colorido e o labirinto”, comentou Patrícia, reforçando que o bordado será mesmo o protagonista da atração.

O sucesso do esforço também já pode ser notado na autoestima das bordadeiras: hoje em dia, elas mostram-se bastante animadas com o ofício. “O bordado, para mim, tem uma importância afetiva, econômica, social e cultural. Afetiva, pois sou apaixonada por esse artesanato; econômica, pois é de onde vem a minha renda; social, pois ajudo outras mulheres a terem autonomia; e cultural, porque representa a luta e a resiliência para manter vivo esse artesanato no município”, frisou a bordadeira Lourdes Lima, responsável pela cooperativa da categoria em Juarez Távora, que já possui mais de 30 anos.

Ainda conforme Patrícia, o projeto não para por aí. “O desfile já foi um avanço enorme. O próximo passo será trabalhar [o artesanato] nas escolas, levar uma proposta para elas, para não deixar essa atividade morrer”.

Música, esportes e natureza prometem encantar os turistas

Na manhã da sexta-feira (21), o Raízes do Brejo inicia suas atividades em Juarez Távora, com a exposição de peças feitas com base no bordado labirinto e em couro. Pela tarde, o público poderá participar de oficinas de labirinto e de chicote de couro. Haverá também uma mostra de fotografias do Galo, bloco carnavalesco da cidade, além de uma feira de artesanato, gastronomia e produtos da agricultura familiar, ao som da banda de fanfarra Fênix, que sairá em cortejo pelo município.

Situada no Sítio Quirino, a Pedra do Padre oferece trilhas e belas paisagens em todo o seu entorno, além de ser o cenário de uma misteriosa lenda local

A abertura oficial do festival acontecerá às 19h, com apresentação do grupo cultural Xâmego Nordestino, seguida do tão esperado desfile de moda “Tecendo Cactos”, levando à passarela o labirinto, o couro e o algodão colorido, ícones da cultura local. A programação da noite segue com shows de Betinho dos Teclados,  trio pé de serra e Matheus do Acordeon.

No sábado (22), o turismo de aventura toma conta da agenda. Às 7h, haverá uma corrida de atletismo e, para os mais corajosos, voo livre de asa-delta e de parapente. Em seguida, acontecerá o 3º Ecopedal, evento de ciclismo que busca promover o esporte, a saúde e o contato com a natureza. Mais tarde, além das exposições e da feira de artesanato, uma peça teatral infantil será encenada no Centro. Às 16h, ocorrerá uma exibição das peças que fizeram parte do desfile “Tecendo Cactos”. A quadrilha Mulher Rendeira vai se apresentar em seguida. Para finalizar o dia, estão previstos shows com o cantor e sanfoneiro Fabiano Guimarães e Neno, O Magnífico, ex-integrante da banda Magníficos.

No domingo (23), último dia de evento, a manhã começa com a 17ª Cavalgada Tradicional de Juarez Távora, partindo do Parque de Vaquejada Progresso. A agenda encerra-se ao som do forró de Anderson Mendes, Eskema de Luxo e Neto Farra.

História e atrativos

A origem de Juarez Távora remonta a construções iniciadas por volta de 1880, formando o povoado conhecido como Água Doce — nome derivado de uma cacimba de água potável existente na região. Com o desenvolvimento local, impulsionado pela instalação de uma usina de descaroçamento de algodão, o aglomerado cresceu, ganhando melhorias estruturais, como agência de Correios e linha telefônica, enquanto pertencia a Alagoa Grande. Seu nome foi alterado após a Revolução de 1930, em homenagem ao militar Juarez Távora. A emancipação política veio em 16 de julho de 1959, quando a localidade foi desmembrada de Alagoa Grande, sendo instalada como município em dezembro do mesmo ano.

Além dos atrativos culturais e culinários, a cidade possui diversos pontos turísticos com paisagens encantadoras, como a Pedra do Padre, localizada no Sítio Quirino. O lugar tem trilhas e belezas naturais, além de ser o cenário de lendas sobre um religioso misterioso, que teria frequentado a área e sumido, deixando apenas suas vestes próximo à formação rochosa.

A Serra do Cruzeiro também oferece uma visão privilegiada de Juarez Távora, com paisagens que misturam o rural e o urbano. Trata-se do ponto mais alto do município, abrigando um cruzeiro que é símbolo de fé para a comunidade.

Já para quem busca aventura, a Trilha da Caatinga é o novo atrativo da região, com roteiros que exploram o contato direto com a natureza local.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 9 de novembro de 2025.