No trânsito, é comum ver condutores tentando encontrar formas de cortar caminho, subindo em canteiros, calçadas ou esgueirando-se pelo meio-fio. Esses desvios — comumente cometidos por condutores em motocicletas — afetam a previsibilidade do trânsito e aumentam a probabilidade de acidentes, além de se enquadrar na categoria de infração gravíssima. A multa acrescenta sete pontos na carteira de motorista e, atualmente, cobra do infrator o valor de R$ 880,41. De acordo com dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), divulgados em relatório do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PB), foram 3.942 infrações do tipo cometidas no ano passado, na Paraíba.
A conselheira estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Conselho Estadual de Trânsito na Paraíba (Cetran-PB), Giordana Coutinho, relata que a pressa para chegar ao lugar de destino e a necessidade de cumprir metas de entregas, no caso dos entregadores por aplicativos, são as causas que mais contribuem para recorrência dessa infração. “Banalizam as regras do trânsito para chegar mais rápido, não baixar o score, e isso tem acarretado muitas mortes e sinistros no trânsito. Espaços como o canteiro e a calçada existem por um motivo, que é facilitar o trânsito de pedestres”.
Além do risco de causar acidentes ou ferir alguém, realizar travessias em locais que não foram projetados para o tráfego de veículos pode ter outras consequências graves. Caso a ação provoque danos visíveis — como rachaduras, destruição de meio-fio, quebra de sinalização ou de canteiro central —, o ato pode configurar crime de dano ao patrimônio público, conforme o artigo 163 do Código Penal. Nessas situações, além da multa e dos pontos na carteira de habilitação, o infrator pode ser obrigado a arcar com os prejuízos causados.
Giordana explica, ainda, que veículos transitando por esses espaços, mesmo que só por um momento, ferem princípios de bom relacionamento e convivência social no trânsito e vão contra a Norma de Circulação e Conduta, segundo a qual o veículo de maior porte deve zelar pela segurança dos menores — os pedestres, portanto, deveriam estar na base desse cuidado. “Isso é preocupante, porque é uma questão sistêmica: as pessoas não olham para o outro”.
Transeuntes
Os pedestres relatam que, com frequência, observam veículos transitando por áreas exclusivas para quem caminha e, também, os acidentes decorrentes dessa ação. A dona de casa Hosana da Silva, de 53 anos, conta que fica uma sensação de insegurança. “Vejo acontecer direto. Todo mundo quer chegar em algum lugar rapidamente e, às vezes, na hora de atravessar, tanto a gente não enxerga a moto, quanto o motociclista não nos vê. É errado, mas todo mundo faz e aí acontecem os acidentes”.
Jarlysson Richene, de 35 anos, trabalha em uma oficina mecânica na Avenida Cruz das Armas e reafirma que esse tipo de ação repete-se diariamente: “Aqui perto tem uma brechinha no refúgio entre as pistas, na faixa de pedestres. Vejo muita gente querendo cortar por lá e muita batida acontecer por causa disso”.
Humberto Silva, de 63 anos, que trabalha com transporte público, avalia que a maior insegurança no trânsito acaba sendo para os próprios motociclistas. Segundo ele, esses condutores colocam-se em risco ao cortar caminho em locais inadequados, o que pode resultar em choques com carros, outras motos ou pedestres. Humberto observa que todos buscam facilidade, mas ressalta a importância de ter cuidado, pois a imprudência pode colocar tanto quem a pratica quanto inocentes em perigo.
Risco atinge, sobretudo, os próprios motociclistas
De acordo com a coordenadora da Educação para o Trânsito da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) de Cabedelo, Abimadabe Vieira, mesmo com o avanço das campanhas educativas, “motos continuam sendo protagonistas nos atendimentos por acidentes de trânsito na Paraíba. De janeiro a setembro deste ano, mais de 15 mil motociclistas foram atendidos nos dois hospitais de trauma do Estado — um número quase 15 vezes maior que os sinistros com carros”, conta ela.
Até agosto deste ano, o Hospital Estadual de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, registrou 8.099 acidentes de trânsito. Destes, 6.388 envolviam motocicletas, número que corresponde a 79% do total de ocorrências.
O Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, por sua vez, divulgou que, no primeiro semestre de 2025, houve um aumento maior que 30% no número de atendimentos a vítimas de acidentes de moto em relação a 2024 — mais de 6,3 mil pacientes foram socorridos nesse período, contra 4,8 mil no ano anterior. Em agosto de 2025, o hospital registrou um total de 1.044 acidentes de trânsito, e 902 desses incidentes envolveram motocicletas. Os dados foram divulgados pelos setores de estatística dos Hospitais de Trauma de João Pessoa e Campina Grande.
Abimadabe também explica que, ao subir em calçadas ou cortar por canteiros, o piloto precisa lidar com um solo que “não possui aderência e estabilidade projetada para pneus”, o que aumenta o risco de acidentes. A falta de aderência no piso pode resultar na perda de controle do veículo, elevando o risco de desequilíbrio e queda. “A educação para o trânsito, portanto, não é um detalhe: é o caminho mais seguro para reduzir números que ainda assustam”, conclui a coordenadora.
Semob-JP conscientiza crianças e adultos
A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob-JP) promoveu, ao longo desta semana, uma série de atividades educativas voltadas à conscientização sobre a segurança no trânsito. As ações aconteceram em diversos pontos da cidade, com foco em escolas, estabelecimentos comerciais e áreas de grande circulação, e alcançaram mais de 600 pessoas, crianças e adultos, reforçando mensagens sobre respeito às leis de trânsito e valorização da vida.
Ontem (24), a programação teve início, no turno da manhã, no Centro Educacional Talentus e seguiu no período da tarde, com atividades pedagógicas e interativas. De acordo com o superintendente de Mobilidade Urbana, Marcilio do HBE, as ações fazem parte das atividades permanentes da Semob-JP voltadas à educação para o trânsito, com o objetivo de sensibilizar pedestres, ciclistas e condutores sobre a importância de atitudes responsáveis e solidárias nas vias da capital.
“Nosso trabalho educativo é permanente e tem um papel essencial na mudança de comportamento das pessoas. Quando levamos informação de forma lúdica e participativa, especialmente para as crianças e jovens, estamos formando cidadãos mais conscientes e comprometidos com a segurança no trânsito”, destacou o superintendente.
A programação iniciou-se na terça-feira (21), com uma ação voltada ao uso correto das vagas especiais no Assaí Atacadista, no bairro do Geisel, realizada pela equipe de educadores da Divisão de Educação de Trânsito. No turno da tarde, o Teatro de Bonecos da Semob-JP apresentou uma peça lúdica e educativa no Colégio Ethos, abordando o tema de forma divertida para os alunos.
Na quarta-feira (22), as atividades começaram cedo, com uma ação na faixa de pedestres em frente aos colégios ISO e João Machado, em Jaguaribe. À tarde, a equipe educativa esteve no Colégio Fênix, reforçando a importância do comportamento seguro no trânsito entre estudantes e colaboradores. Na quinta-feira (23), as ações ocorreram nos turnos da manhã e da tarde, no Colégio Século, no bairro dos Bancários, envolvendo toda a equipe educativa da Semob-JP.
Encerrando a semana, hoje, será realizada uma grande ação comunitária em alusão ao Dia das Crianças, em Mangabeira VIII, das 13h às 18h, com participação da equipe de educadores da Semob-JP. A atividade levará informações sobre segurança viária e cidadania no trânsito à população da região.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de Outubro de 2025.
