Um novo capítulo no combate ao câncer de mama começa a ser escrito na Paraíba. Ontem, o estado recebeu a primeira remessa do Trastuzumabe Entansina, medicamento de última geração agora disponível no SUS. Voltado ao tratamento do HER2-positivo, tipo mais agressivo da doença, o remédio ajuda a reduzir em até 50% a chance de reincidência do tumor em mulheres que ainda apresentam sinais da doença após a quimioterapia. Nessa etapa, são 224 frascos ao todo, os quais serão destinados a 50 pacientes elegíveis no estado.
Para o farmacêutico Rodrigo Marques, chefe do núcleo oncológico da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado da Saúde (SES), o acesso gratuito a uma terapia tão avançada representa “um avanço significativo” na oncologia pública. Em entrevista à Rádio Tabajara, ele explicou que, embora o medicamento já estivesse disponível há algum tempo no país, o processo de aquisição pelo Ministério da Saúde (MS) foi concluído apenas recentemente, o que, agora, permite sua distribuição nacional. “A previsão é que, nos próximos dias, ele já esteja no nosso estoque”, afirmou. Para se ter ideia, as doses de 100 mg e 160 mg foram adquiridas por R$ 3,5 mil e R$ 5,6 mil por frasco, respectivamente.
Segundo ele, a estimativa da Pasta é de que 50 paraibanas sejam contempladas com o tratamento, cujo acesso ocorrerá, exclusivamente, nas unidades especializadas em oncologia do SUS. Dessa forma, serão os próprios hospitais habilitados os responsáveis por indicar as pacientes elegíveis, conforme os protocolos médicos.
Terapia menos agressiva
Conhecido comercialmente como Kadcyla, o Trastuzumabe Entansina é um medicamento moderno indicado para o tratamento do câncer de mama HER2-positivo, tipo que estimula o crescimento das células tumorais. A inovação está na combinação de um anticorpo com um agente citotóxico, que atua diretamente nas células doentes, impedindo a multiplicação e reduzindo o risco de retorno da doença em até 50%. De acordo com Rodrigo Marques, a droga representa uma nova etapa no tratamento oncológico tanto pela sua eficácia quanto pela segurança proporcionada à paciente. Por ser uma terapia-alvo, ela atua de forma mais precisa, reduzindo os impactos no organismo. “A vantagem desse medicamento é que ele se acopla a um agente citotóxico e atua especificamente naquele perfil de tumor”, afirmou.
O tratamento, porém, não é de dose única e deve ser administrado em até 14 ciclos, de acordo com a resposta de cada paciente. Segundo o farmacêutico, essa dinâmica permite um acompanhamento mais próximo, garantindo o ajuste necessário durante o processo terapêutico. “O tratamento do câncer é sempre feito por ciclos, e esse medicamento segue essa mesma lógica”, explicou Rodrigo. Vale lembrar que o tratamento é indicado a pacientes que já passaram por cirurgia e quimioterapia, mas ainda apresentam resquícios da doença.
Efeitos colaterais
Durante a entrevista, ao ser questionado sobre possíveis efeitos colaterais, o porta-voz da SES reforçou que a resposta varia conforme o organismo de cada pessoa. “Todo medicamento é suscetível a algum efeito colateral, isso depende muito do paciente também”, ponderou. Mesmo assim, ele ressalta que os benefícios superam as limitações, já que o tratamento oferece maior controle sobre o tumor e menor impacto na saúde da paciente. Entre os possíveis efeitos colaterais, estão cansaço, febre, náuseas e alterações cardíacas, o que demanda acompanhamento médico contínuo.
A expectativa é que, ao longo dos próximos meses, novos lotes sejam enviados ao estado, garantindo a continuidade do tratamento e a ampliação da cobertura. Porém, até o momento, não há novas remessas confirmadas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de Outubro de 2025.