Cerca de 11,5% das pessoas ocupadas na Paraíba exercem atividades laborais em municípios diferentes de onde residem. O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz parte do Censo Demográfico 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo. O percentual equivale a 160,1 mil pessoas, entre as 1,4 milhão com 10 anos ou mais ocupadas no estado.
A proporção registrada na Paraíba supera a média nacional (10,5%) e a do Nordeste (10,2%), sendo a oitava maior do país e a quarta mais alta da região. Apenas Sergipe (15,9%), Rio Grande do Norte (15,4%) e Pernambuco (15%) apresentam índices superiores no Nordeste.
De acordo com o levantamento, os homens são maioria entre os trabalhadores que atuam fora do município de residência, representando 66,6% (106,7 mil pessoas) desse grupo. As mulheres somam 33,4% (53,5 mil). Em termos proporcionais, 13% dos homens ocupados deslocam--se para outro município, enquanto entre as mulheres o índice é de 9,3%.
Entre os 160,1 mil trabalhadores paraibanos que atuam em outro município, 76,4% (122,3 mil) retornam para casa três ou mais vezes por semana. Outros 23,6% (37,8 mil) permanecem fora do domicílio durante a maior parte dos dias úteis. O percentual de retorno na Paraíba está ligeiramente acima da média do Nordeste (75,1%), mas abaixo da média nacional (85,7%).
Os maiores percentuais de trabalhadores que se deslocam para outros municípios foram observados em Matinhas (41,1%), Puxinanã (40,7%) e Bayeux (40,6%). Já Campina Grande (3,7%), Piancó (2,6%) e Aguiar (1,9%) apresentaram as menores proporções. Em João Pessoa, o índice é de 5,1%, e em Patos, de 6,1%.
Por outro lado, 86,4% da população ocupada da Paraíba — cerca de 1,2 milhão de pessoas — trabalham no próprio município de residência. Desses, 57,5% são homens (692,3 mil) e 42,5% mulheres (512,2 mil). Entre as trabalhadoras, 21,8% (111,4 mil) exercem suas atividades dentro de casa, enquanto 78,2% (400,7 mil) trabalham fora, mas ainda no mesmo município. No caso dos homens, 17,5% (121,2 mil) trabalham em casa e 82,5% (571,1 mil) fora dela.
O Censo também identificou 15,8 mil pessoas (1,1%) trabalhando em mais de um município ou país e 238 paraibanos exercendo atividades laborais no exterior na data de referência da pesquisa.
Maioria leva até 30 minutos para ir ao trabalho
Também de acordo com o Censo Demográfico 2022: Deslocamentos para trabalho e para estudo, a maioria dos trabalhadores paraibanos gasta pouco tempo no trajeto de casa ao trabalho. 75,9% das pessoas ocupadas na Paraíba levam até 30 minutos para chegar ao trabalho principal. O percentual, que representa cerca de 859,5 mil pessoas, é superior às médias nacional (66,5%) e nordestina (69,7%), sendo o nono maior do país e o segundo maior do Nordeste.
Do total de 1,13 milhão de paraibanos ocupados que trabalhavam fora do domicílio, 13,9% (157,3 mil) gastavam até cinco minutos no deslocamento. Desses, 56,1% eram homens (88,3 mil) e 43,9% mulheres (69 mil). A proporção estadual supera tanto a média brasileira (10,3%) quanto a do Nordeste (12%).
Já 62% (702,2 mil pessoas) levavam entre seis minutos e meia hora no percurso até o trabalho — sendo 421 mil homens (59,9%) e 281,2 mil mulheres (40,1%). Também nesse grupo, o estado apresentou índices acima das médias nacional (56,3%) e regional (57,8%).
Os municípios com os maiores percentuais de trabalhadores que gastam até meia hora no deslocamento foram Joca Claudino (95,4%), Quixaba (93,9%) e Frei Martinho (93,5%). Nas maiores cidades do estado, os percentuais foram menores: João Pessoa, com 67,1%, e Campina Grande, com 78,9%.
Por outro lado, cerca de 181 mil pessoas (16%) afirmaram gastar entre mais de meia hora e uma hora para chegar ao trabalho. Desse total, 109,9 mil são homens (60,7%) e 71,2 mil mulheres (39,3%). Nesse grupo, a Paraíba apresentou proporção inferior às médias do Brasil (20,2%) e do Nordeste (18,8%).
O levantamento aponta ainda que 64,7 mil pessoas (5,7%) gastam entre mais de uma hora até duas horas no trajeto diário, enquanto 16,1 mil (1,4%) levam mais de duas horas para chegar ao trabalho. Em ambos os casos, os percentuais estaduais são menores que as médias nacional e regional, de 10,4% e 8,6% (para o grupo de até duas horas) e de 1,8% (para o grupo acima de duas horas).
Os dados reforçam que a Paraíba é um dos estados onde os deslocamentos diários para o trabalho são, em média, mais curtos, o que reflete tanto o tamanho dos centros urbanos quanto a distribuição das oportunidades de emprego em relação às áreas residenciais.
Meios de transporte
- Motocicleta é utilizada por mais de 340 mil trabalhadores paraibanos para ir ao serviço | Foto: Julio Cezar Peres
O veículo mais utilizado pelos trabalhadores da Paraíba para chegar ao trabalho é a motocicleta. 30,2% dos 1,13 milhão de paraibanos ocupados que trabalhavam fora de casa — o equivalente a 342,6 mil pessoas — utilizavam moto em seus deslocamentos diários.
O percentual é superior às médias nacional (16%) e nordestina (25,4%), o que coloca a Paraíba na oitava posição entre os estados brasileiros com maior uso de motocicleta como principal meio de transporte para o trabalho. O estado fica atrás apenas de Rondônia (41,6%), Piauí (41,1%), Tocantins (34,8%), Maranhão (34,1%), Acre (31,9%), Mato Grosso e Ceará (ambos com 30,8%).
O automóvel aparece em segundo lugar, utilizado por 282,6 mil trabalhadores (24,9%). A proporção é menor que a média do país (31,7%), mas superior à da Região Nordeste (20,6%).
A caminhada ainda é uma forma expressiva de deslocamento: 21% dos trabalhadores (237,5 mil pessoas) vão a pé para o trabalho. Esse é o sétimo maior percentual do Brasil, empatado com o Maranhão e abaixo apenas de Bahia (27,6%), Alagoas (24,9%), Pernambuco (24,8%), Minas Gerais (23,3%) e Sergipe (21,3%). A taxa paraibana supera a média nacional (17,4%), embora esteja um pouco abaixo da média nordestina (23%).
O ônibus é o quarto meio de transporte mais utilizado, com 13,7% (155,4 mil pessoas). O índice é o 10o menor do país — a média nacional é de 20,9% — e o segundo menor do Nordeste, acima apenas do Piauí (9,2%).
A bicicleta é usada por 4,1% dos trabalhadores (46,2 mil pessoas). O percentual é o quarto menor do Brasil, igual ao de São Paulo, e acima apenas dos registrados no Amazonas (2,8%) e no Distrito Federal (2,4%). As médias nacional e regional foram de 6,1% e 6,7%, respectivamente.
O levantamento também identificou o uso de outros meios de transporte menos frequentes, como táxi e aplicativos (1,1%), vans ou peruas (0,9%), caminhonetes ou caminhões adaptados, conhecidos como “paus de arara” (0,3%), trem ou metrô (0,1%) e embarcações de pequeno porte (0,1%). Outros meios somaram 0,6% do total.
Os dados revelam um cenário em que o transporte individual, sobretudo o uso da motocicleta, tem papel central na mobilidade dos trabalhadores paraibanos — reflexo da estrutura urbana das cidades do estado e das limitações do transporte público coletivo.
Mais de 96 mil discentes não estudam onde moram
O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE, revelou que cerca de 1,1 milhão de pessoas residentes na Paraíba frequentavam alguma instituição de ensino no ano da pesquisa. A grande maioria — 91,1% (984,7 mil estudantes) — estudava dentro do próprio município de residência, enquanto 8,9% (96,6 mil) frequentavam escolas, creches ou universidades em outro município ou até em outro país.
Desse total, 566 pessoas, o equivalente a 0,05%, estudavam em algum país estrangeiro. Na comparação com 2010, quando a proporção de estudantes paraibanos que se deslocavam para estudar fora era de 7,9%, houve um crescimento de 1%.
No ranking nacional, a Paraíba aparece com a sexta maior proporção de estudantes que estudam fora do município de residência, atrás apenas de Rio Grande do Norte (11,1%), Sergipe (9,5%), Rio Grande do Sul e Pernambuco (ambos com 9,1%) e Goiás (9%). O índice paraibano (8,9%) supera as médias do Brasil (7,3%) e do Nordeste (7,4%).
Entre os municípios paraibanos, os maiores percentuais de estudantes que se deslocam para outro município ou país foram observados em Várzea (36,3%), São José de Princesa (35,8%) e Logradouro (32,8%). Já as menores taxas foram registradas em Campina Grande (2,3%), João Pessoa (2,6%) e Barra de Santana (3,2%).
A análise por sexo mostra que 90,1% das mulheres estudantes (491,4 mil) e 92% dos homens (493,3 mil) frequentavam instituições de ensino no próprio município de residência. Entre aqueles que estudavam fora, 9,9% das mulheres (53,8 mil) e 7,9% dos homens (42,3 mil) deslocavam-se para outro município do país. O número de estudantes que atravessavam fronteiras internacionais era pequeno e equilibrado: 280 mulheres e 286 homens.
Os dados também evidenciam uma relação entre deslocamento para estudo e renda familiar. Segundo o IBGE, quanto maior o rendimento domiciliar per capita, maior a probabilidade de o estudante frequentar uma instituição fora de seu município. Na Paraíba, entre famílias com renda inferior a meio salário mínimo, menos de 7% dos estudantes estudavam em outro município. Entre as classes com rendimentos acima desse valor, a proporção supera os 10% e chega a 15% nas faixas de renda mais altas.
O levantamento reforça que, embora a maioria dos estudantes paraibanos ainda estude perto de casa, o acesso ao ensino fora do município cresce, especialmente entre famílias com maior poder aquisitivo e em cidades menores, onde a oferta de instituições de ensino é mais limitada.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de Outubro de 2025.