O Instituto de Polícia Científica (IPC) da Polícia Civil da Paraíba (PCPB) descartou intoxicação por metanol como causa da morte de Francisco Rariel Dantas da Silva, de 32 anos — até então, o único caso suspeito de óbito por esse tipo de contaminação registrado no estado, desde o início da crise nacional envolvendo a adulteração de bebidas alcoólicas. A informação foi confirmada pela delegada Nercília Dantas, que acompanha o caso. Segundo ela, nem os exames de sangue do homem, nem os testes realizados na bebida que teria sido consumida por ele, apontaram a presença da substância química.
Rariel Dantas, que era natural de Baraúna, no Seridó, morreu no Hospital de Trauma de Campina Grande, no dia 4 de outubro, após sofrer três paradas cardiorrespiratórias. O paciente havia sido internado anteriormente no Hospital Regional de Picuí, no Seridó paraibano, mas foi transferido para uma instituição com mais recursos, diante da gravidade de seu caso e da suspeita de intoxicação por metanol, já que ele apresentava alguns sintomas condizentes com o quadro.
Os pais de Rariel afirmaram, em entrevistas, que ele tinha problemas com o vício em álcool e, quando começou a passar mal, já estava bebendo havia três dias. A expectativa é que o laudo cadavérico, que atestará a causa da morte, seja divulgado ainda hoje.
Prisão
Após diversos casos de intoxicação por metanol registrados em São Paulo, e o surgimento de algumas suspeitas em Pernambuco, acenderem um alerta em todo o país, um Grupo de Trabalho Interdisciplinar foi formado para investigar possíveis ocorrências e combater a adulteração de bebidas na Paraíba, envolvendo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a Agência de Vigilância Sanitária da Paraíba (Agevisa-PB), o Procon Estadual, a PCPB, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de João Pessoa (Ciatox-JP).
A Polícia Civil chegou a prender um homem em flagrante, na última segunda--feira (6), suspeito de administrar um local de produção e envasamento ilegais de bebidas destiladas em Alagoa Nova, no Agreste. Ele foi liberado em audiência de custódia. Como explicou Nercília Dantas, o delito não se relaciona à presença de metanol nas mercadorias. “Aquela situação foi relativa à questão da venda de bebida sem os alvarás necessários. Como é um crime sem violência, é natural que ele tenha sido liberado na [audiência de] custódia. A questão da [fabricação de] bebida nociva foi descartada, mas permanece o crime de vender produto sem as autorizações legais de controle de qualidade”, esclareceu a delegada.
Inspeções
Em reação ao alerta nacional sobre o tema, o Procon Municipal de Campina Grande ampliou as ações de fiscalização contra a comercialização de bebidas falsificadas ou fora do prazo de validade. Já em João Pessoa, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Gerência de Vigilância Sanitária, e o Procon-JP vêm realizando atividades conjuntas para inspecionar as bebidas destiladas comercializadas na cidade.
Os órgãos orientam aos consumidores que desconfiem de preços muito baixos, rótulos borrados, tampas danificadas e ausência de lacre ou de selo fiscal. A recomendação é adquirir bebidas somente em estabelecimentos de confiança e exigir sempre a nota fiscal das mercadorias.
“Assim como você tem o direito de adentrar a cozinha de um bar, de um restaurante, de um quiosque, para ver a qualidade do que está sendo produzido, também goza do direito de pedir o vasilhame, a bebida daquela dose ou daquele produto”, salientou o diretor da Agevisa-PB, Geraldo Moreira.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de Outubro de 2025.