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Mercado Central

Falta de vagas gera irregularidades

publicado: 27/06/2025 08h39, última modificação: 27/06/2025 08h44
Ausência de estacionamento que comporte um número maior de automóveis também influencia na queda das vendas
Estacionamento calçada rebaxada_F. Evandro Pereira (4).JPG

Lojistas, em meio à superlotação de veículos no local, acabam adotando medidas privatistas em relação ao passeio público | Fotos: Evandro Pereira

por Camila Monteiro*

A falta de vagas para estacionar no entorno do Mercado Central de João Pessoa tem sido um dos principais entraves para comerciantes e consumidores que frequentam a região. Sem estacionamento próprio, o local sofre com a ausência de estrutura adequada para acolher veículos, o que impacta diretamente o movimento das lojas e a experiência dos clientes.

O ambulante Guilherme Pereira, que trabalha diariamente no mercado, relata que a dificuldade em encontrar uma vaga tem afastado compradores. “É complicado demais encontrar lugar para parar por aqui. As pessoas acabam indo para outros mercados, como o da Torre”, afirma. A vendedora Maria Aparecida Soares, que atua em um box de frutas e verduras, compartilha da mesma preocupação. “Os compradores chegam aqui e não têm onde colocar o carro. Muitas vezes eles dão voltas e voltas e acabam indo embora para outra feira”, lamenta. Segundo ela, os feirantes vêm perdendo clientes devido à falta de acesso.

Diante desse cenário, lojistas adotam medidas alternativas — ainda que irregulares — para tentar reservar vagas para seus clientes. É comum encontrar cones, cavaletes, correntes ou estruturas metálicas obstruindo vagas em frente aos estabelecimentos. Em uma rápida volta pelas redondezas do mercado, é possível observar diversas casas comerciais utilizando esses recursos. Em uma loja de artigos de festas, por exemplo, tinha uma estrutura com a placa “Proibido estacionar – área de carga e descarga”. Em outro estabelecimento, de artigos agropecuários, o proprietário (que preferiu não se identificar) posicionou um cavalete de ferro para impedir o uso da única vaga localizada em frente a loja por pessoas que não fossem clientes.

Aline Augustinho, vendedora em uma comércio de embalagens, conta que metade da calçada rebaixada é usada para exposição de produtos e a outra metade é bloqueada para garantir espaço aos clientes. “Já deixaram o carro aqui o dia inteiro. Fechamos a loja e o veículo ainda ficou aqui”, relatou.

Proibição

Apesar da falta de um estacionamento amplo ser a causa principal, tais práticas privatistas desobedecem à legislação da cidade. A Lei Municipal nº 63/2011 proíbe a privatização de vagas em vias públicas, e o uso de obstáculos como cones, correntes ou placas com ameaças de reboque pode gerar multa de R$ 1.000. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) também define as calçadas como vias públicas, devendo garantir livre circulação de pedestres, salvo exceções previstas para unidades de saúde, como farmácias, hospitais e clínicas — com rotatividade máxima de 25 minutos.

O comerciante Elesbão Neto, dono de uma loja de produtos veterinários e agropecuários na área, conseguiu, por meio da Justiça, uma autorização para o uso privativo da vaga, por vender medicamentos veterinários. “Óbvio que eu não faço questão que fiquem 10 minutos, mas tinha gente que ia ao mercado e deixava o carro o dia inteiro. Se eu não tivesse essa decisão [judicial] favorável, o que eu ia fazer?”, indaga.

A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) é o órgão responsável pela fiscalização, atuando por meio de denúncias via WhatsApp (83) 98760-2134 ou pelo aplicativo João Pessoa na Palma da Mão. Em caso de reincidência, a Secretaria de Desenvolvimento e Controle Urbano (Sedurb) é quem aplica as penalidades, iniciando sempre com abordagem educativa antes da aplicação de multas.

Enquanto o problema estrutural de estacionamento no Mercado Central persiste, comerciantes e consumidores seguem enfrentando os impactos diretos de uma mobilidade urbana desordenada — agravada tanto pela ausência de vagas quanto pelas práticas irregulares adotadas para tentar contornar a situação.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de junho de 2025.