A Paraíba é o estado do Nordeste com o maior número de cachaças, segundo o Anuário Nacional da Cachaça de 2024, elaborado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. São cerca de 12 milhões de litros por ano, produzidos em 80 engenhos do estado. Honrando essa vocação local, João Pessoa transformou-se, ontem, na capital nacional do destilado, com a abertura oficial da quinta edição do festival Brasil Cachaças — programação que se estende até sábado (25), no Espaço Cultural José Lins do Rêgo.
O evento reúne cachaças de 14 estados, com cerca de 80 marcas presentes durante os quatro dias de atividades. Para a organizadora da feira, Fernanda Melo, o objetivo é valorizar e divulgar a cachaça de alambique, bebida genuinamente brasileira. “A gente faz um trabalho de trazer esse universo para o Brasil inteiro. Isso faz com que, cada vez mais, a cachaça paraibana seja visualizada como um produto de qualidade”, explica. “O público pode esperar muita cachaça, muito queijo da Paraíba, muita alegria e conhecimento sobre os valores históricos, culturais, econômicos, antropológicos e sensoriais da cachaça paraibana”.
Uma das expositoras do evento, Rúbia Rezende, destaca o papel do festival para projetar a bebida paraibana em nível nacional: “Muitas pessoas não sabiam nem o que era a cachaça da Paraíba. Por causa de Fernanda Melo, com essa iniciativa, hoje a gente é visto em todo o Brasil”. Desde 2010, Rúbia administra o Engenho GranRaiz, localizado em Pitanga da Estrada, distrito de Mamanguape. Segundo a empreendedora, o incentivo do Governo do Estado, com programas para capacitação de produtores e exportação do destilado, colocou a cachaça paraibana em um novo patamar.
“Na Região Nordeste, o paraibano é quem mais consome cachaça. É muito promissor o nosso futuro, tanto no estado quanto fora do país”, analisa. “Nós temos um engenho bem moderno. Nosso diferencial é ter nossa própria cana e nosso processo produtivo, com uma indústria preparada para isso”.
Esse setor movimenta também o turismo. A Rota dos Engenhos, projeto desenvolvido por meio da parceria entre a Empresa Paraibana de Turismo (PBTur) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Paraíba (Sebrae-PB), promove visitas a 15 engenhos pelo estado, além de garantir emprego a mais de 22 mil pessoas e um faturamento superior a R$ 1 bilhão, conforme dados da Secretaria de Estado de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Setde).
Atividades
A agenda deste ano do Brasil Cachaças inclui concursos e oficinas de drinks e sobremesas, degustação, espaços para networking, lançamentos de produtos e shows. O festival é fruto de uma parceria entre o Governo da Paraíba, o Sebrae--PB, a Prefeitura de João Pessoa e a Associação Nacional de Cachaça de Alambique (Anpaq), entre outros.
O evento ocorre das 14h às 22h, com entrada ao valor de R$ 10, mais 2 kg de alimento não perecível, que pode ser adquirida por meio do site.
Salão ostenta variedade de queijos locais
A feira abre espaço, ainda, para o 2º Salão do Queijo da Paraíba, iniciativa do Instituto Social do Queijo (Isaque). O evento recebe produtores de 35 municípios paraibanos, com o objetivo de valorizar a fabricação local. Além dos queijos feitos à base de leite de cabra e de vaca, o estado conta com mais de 50 tipos da iguaria.
O gerente-executivo de Produção Agropecuária da Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca (Sedap), José Otávio Targino, dedica a ocasião à avaliação e à valorização do processo de produção do leite, da matéria-prima à indústria. “Essa conversa que vamos ter é com o nosso produtor, com o laboratório, para a gente aprimorar a questão das análises laboratoriais, da qualidade do leite. Vamos ouvir as experiências, os desafios da produção daqui e das propostas que vêm do setor e das instituições”, pontua Targino.
Para os fabricantes locais, o principal desafio é a falta de celeridade na aquisição de selos e regulamentações que comprovem a procedência do alimento e facilitem sua distribuição comercial. “O queijo da Paraíba é trabalhado tecnicamente, feito por famílias que vivem dessa atividade. Estamos buscando as melhores tecnologias, os melhores manuseios da qualidade do leite, para termos um produto de qualidade”, explica o representante da Cooperativa dos Produtores Rurais de Monteiro (Capribom), Rubens Remígio. “E o nosso queijo é de excelência, está chegando no mercado consumidor com muita força. Está gerando muito emprego para a região e tem um potencial imensurável. O que a gente precisa é de mercado amplo, em grandes redes de supermercados”, complementa.
A programação inclui o Concurso de Queijos e Produtos Lácteos da Paraíba, oficinas, palestras e workshops sobre higiene, certificação e inovação. Haverá, também, a exposição de mercadorias premiadas e a volta da produção do tradicional Queijo Bola do Lastro.
Empreender PB abre inscrições para engenhos
Outro destaque do Brasil Cachaças é uma ação do Programa Empreender PB, que mantém, durante o festival, inscrições abertas, exclusivamente, para engenhos produtores do destilado. Segundo o Governo da Paraíba, responsável pela iniciativa, o serviço busca fortalecer um dos setores mais tradicionais da economia paraibana, reconhecido pela qualidade e importância cultural da cachaça produzida no estado.
A linha de crédito Empreender Rural contempla valores de R$ 3 mil a R$ 30 mil, para pessoas físicas; e de R$ 15 mil a R$ 150 mil, para pessoas jurídicas, com juros de 0,64% ao mês e prazo total de pagamento de até 60 meses, incluindo até 12 meses de carência. O objetivo é ampliar a capacidade produtiva dos engenhos, apoiar a aquisição de insumos e a modernização de equipamentos, além de incentivar práticas sustentáveis no campo.
Para participar, além da documentação básica obrigatória, os interessados devem apresentar a declaração de enquadramento ao Empreender Rural, emitida pela Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer).
As inscrições serão realizadas no estande do Empreender PB, das 15h às 22h. Mais dados estão disponíveis no site.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de Outubro de 2025.
