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Grupos de pedal crescem na capital

publicado: 14/07/2025 09h00, última modificação: 14/07/2025 09h00
Em busca de saúde, economia e segurança, coletivos de bikes promovem integração em viagens de até 440 Km
2025.06.18 Venda de bicicletas © Leonardo Ariel (9).JPG

Representando 44% da receita média, a venda de bicicletas completas lidera o faturamento das lojas especializadas, seguida pelos serviços de revisão e mecânica | Foto: Leonardo Ariel

por Camila Monteiro*

Devido aos aumentos sucessivos nos preços dos combustíveis, ao desejo de incluir uma atividade física na rotina ou mesmo à crescente consciência ambiental, o ciclismo vem ganhando destaque no Brasil. Na Paraíba, essa realidade não é diferente, o crescimento comercial no setor de bikes confirma essa tendência ascendente.

 Segundo a Pesquisa Anual de Comércio Varejista, realizada pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), 48% dos lojistas entrevistados relataram aumento no faturamento de 2023 para 2024 — um crescimento de 26,1% em relação à percepção registrada de 2022 para 2023. Durante a pandemia, o setor teve alta expressiva e, embora hoje esteja estabilizado, os números seguem elevados.

A comercialização de bikes completas continua liderando o faturamento das lojas especializadas, representando 44% da receita média, seguida pelos serviços de mecânica e revisão (23%). Em relação às perspectivas para este ano, mais da metade dos empresários acredita que o desempenho de seus estabelecimentos será ainda melhor em 2025.

O aumento da malha cicloviária nas cidades também impulsiona o uso desse meio de transporte. João Pessoa, por exemplo, destaca-se como a 12a capital com maior proporção de infraestrutura ciclável por habitante, com 12,59 km para cada 100 mil moradores. Segundo a Semob-JP, a capital possui 121,8 km de ciclovias e ciclofaixas, localizadas principalmente na orla marítima.

Equipes de bicicleteiros

Com o aumento no número de ciclistas na cidade, surgiram também alguns desafios, especialmente, relacionados à segurança. Pedalar sozinho passou a representar riscos, tanto pela possibilidade de assaltos quanto pelo convívio com veículos de maior porte no trânsito. Os grupos de pedal, portanto, surgiram como uma alternativa para esses problemas, tendo em vista que pedalar em conjunto proporciona maior proteção para os integrantes desses coletivos.

O professor Rodrigo Leite, ciclista e um dos fundadores do grupo de pedal Teachers Bike, conta que a iniciativa começou com cerca de 10 participantes. Com o crescimento constante, foi necessário criar dois grupos no WhatsApp para comportar todos os integrantes, já que um só não era suficiente. “Hoje, temos mais de 400 ciclistas ativos, sendo que cerca de 120 a 130 pedalam com regularidade”, afirmou. Segundo o professor, pedalar em grupos grandes contribui para a segurança dos ciclistas, tanto por garantir maior visibilidade e respeito por parte dos motoristas, quanto por inibir assaltos e furtos de bicicletas. 

Em João Pessoa, existem diversos grupos de pedal. O Teachers Bike e Pedal de Jaguaribe são dois exemplos de coletivos que ampliaram o número de integrantes | Foto: Rodrigo Leite/Arquivo pessoal

Formado inicialmente por professores, o grupo de ciclismo Teachers Bike realiza passeios em dias e horários definidos, voltados para ciclistas de diferentes níveis. “Começamos com alguns professores, alunos e amigos pedalando nos fins de semana, e o grupo foi crescendo aos poucos. Atualmente, temos pedais regulares, com ritmos variados para atender a todos os integrantes”, explica o professor Rodrigo Leite, um dos fundadores da equipe.

Hoje, as equipes de ciclistas estão cada vez mais organizadas. No grupo de Rodrigo, os pedais acontecem de segunda a sexta-feira e aos domingos, com categorias que variam conforme o nível de condicionamento dos participantes: iniciante (15 a 18 km/h), iniciante II (19 a 25 km/h), transição (22 a 28 km/h), intermediário (25 a 35 km/h) e “insano” (a partir de 28 km/h). Além dos encontros regulares, a equipe promove, mensalmente, um pedal diferenciado, com trajetos mais longos. “Temos eventos durante o ano inteiro. A cada mês lançamos um desafio, e quase todo fim de semana tem um pedal especial”, contou o professor. Entre os destinos já percorridos pelo grupo estão Patos, Caruaru, Porto de Galinhas, Cabaceiras, Recife e Natal. Em julho, a meta é chegar a Mossoró, em um percurso de 440 km.

Rodrigo ressalta que João Pessoa abriga diversos grupos de ciclismo com características distintas. Alguns focam exclusivamente em bicicletas do tipo speed, desenvolvidas para alta velocidade em estradas; outros preferem o mountain bike, com foco em trilhas e terrenos irregulares.

Foto: Luciano Araújo/Arquivo pessoal

Outro coletivo de ciclistas existente na capital é o gru Pedal de Jaguaribe, equipe da qual o médico veterinário Glenison Dias é integrante. Ele conta que começou a pedalar por incentivo de um amigo, “Comecei [pedalando] sozinho, mas um dia aceitei o convite e fui ao pedal de iniciantes, que acontece às terças. Depois, fui melhorando o condicionamento e passei a participar do grupo de quinta-feira, que é mais avançado. Aos domingos, fazemos um pedal mais longo”, relatou.

De acordo com uma pesquisa da Aliança Bike, grande parte das lojas de bicicletas apoia grupos de pedal de alguma forma: 43% por meio da divulgação, 36% com doações de materiais ou produtos e 33% organizando diretamente os passeios. Essas equipes funcionam como importantes canais de divulgação, ficando atrás apenas das plataformas on-line.

Luciano Araújo, também fundador do Pedal de Jaguaribe, conta que o grupo surgiu durante a pandemia, em 2020, quando amigos se reuniam para pedalar pela cidade. O que era um passatempo despretensioso transformou-se em um grupo estruturado. “Hoje temos ciclistas de vários perfis, de adolescentes a idosos, homens e mulheres de todas as idades”, destacou.

André Nascimento, mais conhecido como Pirulito, é um ativista do ciclismo e um dos fundadores do Pedal Jampa, grupo que existe há quase 20 anos. “Fui convidado para pedalar com um pessoal à noite, em 2007. Já usava a bike como meio de transporte. Em uma terça-feira, saímos em três pessoas e chegamos ao Posto 99, onde já havia 35 ciclistas. Conversamos e seguimos pelas ruas de João Pessoa até o busto de Tamandaré e, depois, até a Penha”, recorda. A procura foi tão grande que o grupo acabou se dividindo, dando origem a várias outras equipes nos bairros da capital.   

Para participar de um grupo de pedal não é necessário pagar nenhuma taxa. Basta comparecer no dia e horário combinados, seguindo as regras estabelecidas. Damião Toscano, integrante do Pedal Zona Sul — um dos maiores grupos da cidade — explica: “É só pegar a bike e ir. Não há cobrança, mas é essencial respeitar o grupo, seguir as orientações do guia e, principalmente, usar todos os equipamentos de proteção individual, como capacete, lanternas e câmara de ar reserva”, alertou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de julho de 2025.