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Leptospirose cresce em João Pessoa

publicado: 30/05/2025 08h25, última modificação: 30/05/2025 08h25
Capital registra alta de 144% se comparado com 2024; tempos de chuva favorecem as contaminações
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Os alagamentos são propícios para a transmissão da doença, que acontece por meio do contato da urina do animal com a pele | Foto: Evandro Pereira

por Camila Monteiro*

Em maio deste ano, João Pessoa foi inundada por chuvas intensas, superando a média histórica para o mês. Além dos transtornos causados rotineiramente pelo alto índice pluviométrico, algumas doenças aumentam sua incidência nesse período. A leptospirose é a mais conhecida delas.

Na Paraíba, até o dia 24 de maio, foram confirmados 22 casos de leptospirose. Dados da Secretaria de Saúde do Estado (SES), indicam um aumento considerável nos casos em comparação com o ano passado, quando, no mesmo período, foram registradas apenas nove pessoas infectadas, um crescimento de 144%.

O número elevado está associado, principalmente, a um surto registrado em integrantes a população indígena venezuelana da etnia Warao, em abril deste ano. Do total de casos registrados no estado, 16 ocorreram na capital. Outros municípios que observaram incidência da doença foram Bayeux, Cabedelo, Santa Rita e Seridó.

De acordo a SES, em relação aos óbitos por leptospirose, foram registrados dois casos confirmados em 2024. Neste ano, até o momento, não houve mortes comprovadas, embora um caso esteja em investigação.

Segundo a médica veterinária Marianne Rachel, a leptospirose é uma doença diretamente relacionada a problemas de saneamento básico. “Ela é mais comum em épocas de chuvas, enchentes, e pode afetar muitas pessoas e animais, especialmente em áreas urbanas que têm acúmulo de lixo, presença de roedores, deficiência de saneamento básico”, afirmou.

Alastramento

O potencial crescimento dos casos da doença se dá devido à forma pela qual ela é disseminada. A leptospirose é transmitida, principalmente pela urina de animais infectados pela bactéria Leptospira, sobretudo ratos. A médica infectologista Sônia Barbosa explica que a bactéria penetra pela pele, por exemplo, quando uma pessoa caminha por uma enchente ou manipula água suja, de esgoto, contaminada.

Os sintomas da doença são inespecíficos. A pessoa infectada pode apresentar febre, falta de apetite, dor de cabeça, náuseas, vômitos e dores musculares. Dor nas panturrilhas acaba sendo um sinal clínico diferencial da doença. As manifestações clínicas podem apresentar-se de uma maneira mais grave em 15% dos pacientes, ocasionando insuficiência renal, hemorragias e icterícia (pele com tom alaranjado).

Ao suspeitar da doença, a recomendação é procurar um serviço de saúde e relatar exposição a locais de risco, como áreas de enchentes. Para casos mais leves, deve-se dirigir para atendimento ambulatorial. Já para casos mais graves, a hospitalização deve ser imediata, visando evitar complicações. O tratamento é realizado por meio de antibióticos e terapia de suporte.

O tenente do Corpo de Bombeiros, Ramon Santiago, participou das operações de busca e salvamento no Rio Grande do Sul, no ano passado, e lá foi acometido pela leptospirose. “Eu senti muito cansaço realmente, uma dor nas pernas, a urina ficava mais escura por mais que eu tentasse hidratar. O que eu mais senti foi um cansaço permanente. Eu tinha dificuldades com atividades corriqueiras do dia a dia. Treinos na academia, com a carga muito baixa, já me deixavam enfadado, um sono, um cansaço que não passava”, comentou Santiago.

Precauções

Segundo o Ministério da Saúde, as medidas de prevenção e controle devem ser abrangentes e direcionadas a múltiplos aspectos causadores da doença, desde o controle de roedores e outros animais reservatórios (que transmitem a doença para o meio ambiente) até a melhoria das condições de higiene e saneamento para a população.

  • Cuidados com a água para consumo humano. Utilizá-la potável, filtrada, fervida ou clorada;
  • Cuidado com a lama decorrente de enchentes, pois possui alto poder infectante e adere a móveis, paredes e chão. É recomendado retira-la com a proteção de luvas e botas de borracha. Ao lavar o local, desinfete-o com uma solução de hipoclorito de sódio a 2,5% na seguinte proporção: para 20 litros de água, adicionar duas xícaras de chá (400 ml) de hipoclorito de sódio a 2,5%. Aplicar essa solução nos locais sujos, deixando agir por 15 minutos;
  • Evitar o contato com água ou lama de enchentes. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés);
  • Para o controle dos roedores, recomenda-se a destinação adequada do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas de água e vedação de frestas e aberturas em portas e paredes. O uso de raticidas (desratização) deve ser feito por técnicos devidamente capacitados.

 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de maio de 2025.