A Polícia Civil prendeu ontem (06), em flagrante, o suspeito de administrar um local de produção e envasamento ilegais de bebidas destiladas em Alagoa Nova. Há suspeitas de que o local pode ter ligações com produção da bebida ingerida por Francisco Rariel Dantas da Silva, de 32 anos, natural de Baraúna, que faleceu no último sábado (4), com suspeita de intoxicação por metanol.
As informações foram apresentadas em coletiva do Grupo de Trabalho Interdisciplinar de vigilância, fiscalização, investigação e assistência aos casos de intoxicação por bebidas inautênticas, do qual fazem parte a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Agevisa), o Procon Estadual, a Polícia Civil, o Instituto de Polícia Científica (IPC), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox-JP). Além do caso em investigação, outras duas suspeitas de intoxicação por metanol foram descartadas pelas autoridades.
Para chegar à possível origem da produção e engarrafamento da bebida em Alagoa Grande, a Polícia Civil, em parceria com a Agevisa, localizou, no domingo (5), um estabelecimento em Baraúnas que teria vendido a bebida alcoólica consumida por Rariel Dantas.
A partir desse ponto, foi possível identificar o distribuidor, também em Baraúnas, no distrito de São Tomé, que possuía mais de mil garrafas vazias, sendo 100 delas idênticas à que a vítima havia consumido. O ponto seguinte mapeado levou à produtora e envasadora, onde foram apreendidas amostras dos produtos comercializados, que seguiram para análise no IPC. Os resultados dos exames devem ser divulgados em cerca de 10 dias.
“Pela apreensão dessa bebida que o paciente consumiu no sábado, a Polícia Civil conseguiu desdobrar as investigações ao longo do fim de semana e identificar o local onde ela foi ilegalmente produzida e envasada. No local, houve prisão em flagrante da pessoa responsável. Coincidentemente, a mesma marca, o mesmo rótulo e o mesmo litro apreendido com o paciente foram encontrados nesse ambiente clandestino de fraude e adulteração de bebidas”, explicou o secretário de Estado da Saúde, Arimatheus Reis.
O caso
Depois de ingerir a bebida São Tomé, Francisco Rariel Dantas da Silva apresentou sintomas compatíveis com uma possível intoxicação por metanol. Encaminhado, inicialmente, para no Hospital Regional de Picuí, precisou ser transferido para o Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande, onde não resistiu, após duas paradas cardíacas.
O corpo de Rariel foi encaminhado ao IPC de Campina Grande, onde passa por exames toxicológicos que deverão esclarecer a real causa do óbito. O órgão tem até 10 dias para apresentar os resultados.
No Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, foram colhidas amostras de sangue e urina do paciente, ainda com vida. Esse material também está em análise.
“O IPC levou essas amostras para que possamos confirmar de fato que a intoxicação foi por metanol. Lembramos a todos que, desde o início, antes de chegar ao Hospital de Picuí, o paciente já apresentava sintomas específicos e típicos da condição, então existe uma alta suspeita, mas que só poderá ser confirmada após o resultado do laudo”, afirmou Sebastião Viana, diretor do Trauma de Campina.
De acordo com a delegada Nercília Dantas, titular da 10a Delegacia Seccional da Polícia Civil de Campina Grande, em entrevista concedida à equipe do jornal A União na sede da Polícia Civil, foi apreendida uma das garrafas consumidas pela vítima. “Foram duas bebidas ingeridas e metade de uma terceira ainda restava. Esse material foi encaminhado ao Instituto de Polícia Científica, onde passará por duas análises químicas: uma qualitativa e outra quantitativa. A primeira, que deve ser concluída ainda nesta semana, vai indicar se havia ou não metanol na bebida. A segunda, considerada a mais importante, determinará a quantidade da substância presente”, explicou.
A delegada destacou que o resultado da análise é essencial para confirmar ou descartar a hipótese de intoxicação, uma vez que é comum que bebidas alcoólicas contenham pequenas quantidades de metanol, dentro dos limites seguros estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O processo de produção do destilado naturalmente gera um pouco de metanol, que, em níveis permitidos, não causa grandes prejuízos à saúde. A orientação, neste momento, é que a população leia atentamente os rótulos, tenha cuidado com a procedência da bebida e fique atenta a possíveis indícios de falsificação”, alertou.
Procons de Campina e João Pessoa intensificam fiscalização
O Procon Municipal de Campina Grande ampliou as ações de fiscalização contra a comercialização de bebidas falsificadas e fora do prazo de validade, em parceria com a Secretaria de Defesa do Consumidor do Estado do Rio de Janeiro.
- Operações foram feitas em barracas que comercializam os produtos em locais públicos | Foto: Divulgação/Secom-JP
O coordenador do Procon-CG, Waldeny Santana, defende que o trabalho conjunto tem resultado em apreensões importantes e no fortalecimento da defesa do consumidor.
Em abril, o órgão apreendeu 167 garrafas de bebidas alcoólicas suspeitas de irregularidades. Em julho, fiscalizou 66 postos de combustíveis e lojas de conveniência, resultando na apreensão de 389 produtos, sendo 232 bebidas. As operações seguem ao longo do ano, com foco em retirar do mercado itens falsificados ou vencidos.
Os consumidores devem desconfiar de preços muito baixos, rótulos borrados, tampas danificadas e ausência de lacre ou selo fiscal. A orientação é comprar apenas em locais de confiança e exigir nota fiscal.
Denúncias podem ser feitas pelo Disque Procon 151, pelos telefones (83) 2017-0199, (83) 98185-8168 e (83) 98186-3609, pelas redes sociais oficiais (@procondecampina), pelo aplicativo Campina com Você ou presencialmente, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, na sede do órgão, no Centro de Campina Grande.
Capital
Durante o fim de semana, em João Pessoa, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do setor de Vigilância Sanitária, e o Procon-JP deram continuidade à ação conjunta de fiscalização de bebidas destiladas comercializadas na cidade. O objetivo foi coibir a venda de produtos adulterados com metanol em barracas de bebidas instaladas em locais públicos. A operação contou com o apoio da Guarda Metropolitana de João Pessoa.
A participação do Procon-JP teve como foco a proteção do consumidor. Os técnicos verificaram a rotulagem, a data de validade, a origem e a composição das bebidas, além de checar se as informações estavam descritas em língua portuguesa, conforme determina a legislação. A Guarda Municipal atuou garantindo segurança e tranquilidade durante toda a ação.
Consumidor pode fazer
O diretor da Agevisa, Geraldo Moreira, indica aos consumidores vigilância na hora de tomar as bebidas destiladas. “O mesmo direito que você tem de adentrar em uma cozinha de um bar, de um restaurante, de um quiosque para ver a qualidade do que está sendo produzido, você também goza do mesmo direito de pedir o vasilhame, a bebida daquela dose ou daquele produto”. O órgão deverá atuar junto ao Mapa e também ao Conselho Regional de Medicina especialmente para a análise de bebidas ilegais apreendidas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de Outubro de 2025.