Após reclamações da população e dos comerciantes da área central de João Pessoa, a prefeitura anunciou na última segunda-feira (22), alterações no sistema de Zona Azul. Entre as principais mudanças está a ampliação do tempo máximo de permanência numa mesma vaga, que passou de 2h para 4h e a suspensão, até 8 de outubro, da cobrança da Taxa de Pós-Utilização (R$ 30 para carros; R$ 15 para motos) por extrapolar o tempo limite ou pela ausência do tíquete. Mesmo com as alterações, os usuários ainda afirmam que sentem dificuldades com o novo sistema, seja para uso dos totens e aplicativo de cadastro e pagamento, seja pela necessidade de rotatividade no uso das vagas.
Nas proximidades da Praça João Pessoa, usuários da Zona Azul conversaram com a equipe do jornal A União e relataram problemas e insatisfações com o novo sistema de estacionamento rotativo.
O motorista Henrique José de Lima afirmou que, embora a ampliação do tempo de permanência de 2h para 4h tenha sido positiva, o sistema ainda apresenta falhas.
“Melhorou um pouco porque antes eram 2h, agora aumentou para 4h. Mas eu acho errado que, se você estiver em uma vaga e o prazo terminar, tem que tirar o carro e colocar em outro lugar. Não pode renovar ali mesmo, tem que ficar rodando e procurando vaga. Isso é errado!”, reclamou.
Ele também criticou o valor cobrado — R$ 1,50 por hora para motos e R$ 3 para carros. Segundo Henrique, em comparação com estacionamentos privados, o custo não compensa. “Eles cobram R$ 5. Aqui, são R$ 6 por duas horas. Não compensa”, avaliou.
No local, há um toten para registro do veículo e pagamento, mas alguns usuários relataram dificuldade em manusear o equipamento. Foi o caso de Antônio, que preferiu não informar o sobrenome. Ele contou que não conseguiu utilizar a máquina.
“Não funcionava e não tinha ninguém para ajudar ou dar uma informação, então deixei o carro aí. Primeira vez que estou usando essa Zona Azul, e não consegui cadastrar na máquina”, lamentou.
A equipe de reportagem verificou, posteriormente, que o equipamento mais próximo — localizado em frente ao Banco do Brasil — estava funcionando normalmente. No entanto, por se tratar de um usuário idoso, Antônio encontrou dificuldades para realizar o procedimento, agravadas pela ausência momentânea do monitor de apoio, que só chegou ao local cerca de meia hora depois. Nesse período, vários motoristas também aguardavam auxílio para usar o sistema.
Comerciantes
Os vendedores ambulantes que trabalham na área afirmaram que as reclamações dos motoristas são constantes. A comerciante Lane Arruda, que atua nas proximidades, disse que deixou de ir de carro para o trabalho por causa do custo e das regras do estacionamento.
“Eu vinha só dois dias por semana de carro, mas deixei de vir. Concordo com a Zona Azul, mas não concordo com essa rotatividade. Se uma pessoa vem resolver algo e demora mais, tem que tirar o carro e procurar outra vaga. Isso é complicado. Além disso, acho caro”, afirmou.
Lane contou que, mesmo com a ampliação para 4h de permanência, prefere usar aplicativos de transporte, que saem mais em conta. Ela também apontou problemas de insegurança na região, como a presença de flanelinhas e pedintes, e ressaltou a necessidade de melhor organização do espaço.
Segundo ela, a medida tem impactado até no atendimento aos clientes. “Muitos preferem pedir a um moto Uber que venha buscar a entrega. Eles avisam, passam aqui e a gente entrega no carro mesmo, para não terem que estacionar. Estão evitando por causa da Zona Azul”, relatou.
Lane avalia que a iniciativa não trouxe o efeito desejado de fortalecer o comércio do Centro. Para ela, a redução no movimento está ligada principalmente à saída de órgãos públicos da região, e não à falta de estacionamento.
“O comércio no Centro não está parado por falta de estacionamento, mas pela retirada de órgãos públicos. Se tiver órgãos para as pessoas resolverem as coisas, aí tem movimentação. As pessoas andam por aqui, olham as lojas, compram. Além disso, a compra pela internet tirou muito das vendas presenciais e o aluguel está caro para quem quer abrir um ponto comercial”, destacou.
Ela lembrou ainda que a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), localizada nas proximidades, também deve deixar a área, o que pode prejudicar ainda mais a circulação de pessoas e o comércio local.
Prefeitura
Segundo a gestão municipal e a empresa que opera o serviço na capital paraibana, durante este período de suspensão da cobrança da Taxa de Pós-Utilização, serão reforçadas as campanhas educativas e de informação para a população, com o objetivo de disciplinar o uso do estacionamento rotativo. Contudo, as cobranças feitas antes da publicação do novo decreto, no dia 22 de setembro, estão mantidas, pois estavam de acordo com a regulamentação vigente à época.
Para a Prefeitura, a regularização da Zona Azul tem o objetivo de melhorar a mobilidade urbana e incentivar a ocupação do Centro Histórico, fortalecendo o comércio e a circulação de pessoas na região.
Atualmente, o Centro conta com 1.800 vagas de estacionamento na Zona Azul. A previsão é de que esse número seja ampliado para 2.500 até o fim de outubro.
Além dos totens, localizados em 45 pontos de apoio distribuídos pela região central da cidade, onde o pagamento pode ser realizado em espécie, via Pix, cartão de crédito ou débito, é possível quitar a dívida pelo aplicativo RekPay, disponível gratuitamente para Android e iOS. A plataforma permite, ainda, estender o tempo de uso (até o limite de 4h), localizar vagas disponíveis e até traçar rotas por aplicativos como Waze e Google Maps. O estacionamento rotativo funciona de segunda-feira a sábado, das 8h às 18h.
Estarão isentos do pagamento da tarifa os veículos de propriedade ou a serviço da União, do Estado e do Município, devidamente identificados; os táxis cadastrados em João Pessoa, quando estacionados nos locais destinados; os veículos de emergência e de utilidade pública, desde que em serviço e identificados conforme determina o artigo 29, inciso VII, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB); além dos veículos de carga e descarga, quando estacionados em áreas específicas destinadas a essa finalidade. A Prefeitura também anunciou que será feito um recadastramento dos moradores da área central, por meio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de setembro de 2025.