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Feminicídio em pauta

Cendac inaugura Banco Vermelho

publicado: 27/08/2025 09h57, última modificação: 27/08/2025 10h15
Iniciativa marca nova etapa da campanha Por Todas Elas e Por Nós Também — Pela Vida das Mulheres
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Valquíria Alencar, presidente do Centro de Apoio, foi a principal idealizadora da ação | Foto: Leonardo Ariel
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Sileide Azevedo, Valquíria Alencar, Fernanda França e Irene Marinheiro durante a instalação do Banco Vermelho no Cendac, em João Pessoa, ação da campanha “Por Todas Elas e Por Nós Também – Pela Vida das Mulheres
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por Samantha Pimentel*

Iniciando uma nova etapa da campanha Por Todas Elas e Por Nós Também – Pela Vida das Mulheres, o Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente (Cendac) realizou, ontem (26) pela manhã, a instalação do Banco Vermelho. Ele é uma espécie de memorial, para chamar atenção para o problema da violência contra as mulheres. Na Paraíba, neste ano, foram registrados, até agora, 22 feminicídios. Em todo ano de 2024, foram contabilizados 25, o que demonstra um aumento nos casos. Por isso, o Banco Vermelho, instalado no pátio principal do Cendac, localizado no Centro de João Pessoa, é mais uma etapa do projeto em prol da mobilização de toda a sociedade para o enfrentamento desse cenário.

Na ocasião, também foram apresentadas e distribuídas, entre os participantes, as peças e o informativo da campanha idealizada pelo Cendac desde abril deste ano. Um dos materiais disponibilizados foi o porta-documentos, com todos os telefones de órgãos de atendimento à mulher para a busca de orientações e realização de denúncias. O intuito é que elas possam carregá-lo sempre na bolsa, tendo à mão esses contatos, caso necessário. O Centro também realiza, desde 2017, palestras e oficinas sobre a temática da violência contra a mulher em escolas da rede estadual de ensino da Paraíba e comunidades, sobretudo as mais periféricas. A instalação do Banco Vermelho na instituição marca uma nova etapa dessas ações: a proposta é fazer com que as pessoas que nele sentam, reflitam e pensem como podem agir para enfrentar este problema social.

A ideia de instalar o Banco no local partiu da presidente do Cendac, Valquíria Alencar, uma das fundadoras da organização não governamental (ONG) Centro da Mulher 8 de Março, que atua contra casos de violência de gênero na Paraíba. “Eu bato na tecla da informação, quanto mais informadas, mais as pessoas se conscientizam do que estão passando e podem buscar ajuda”, explica ela. Como parceiros do projeto, Valquíria destaca que há salões de beleza, farmácias e outros estabelecimentos que disponibilizam ao público os materiais educativos produzidos pelo Cendac, ajudando na conscientização popular, sobretudo quanto às outras formas de violência além da física, como a psicológica e a patrimonial.

A presidente do Cendac ressaltou, ainda, que o feminicídio desestrutura famílias, deixando filhos desamparados, já que a mãe morre e o pai pode ser preso ou desaparecer. Segundo ela, a violência é um processo cultural que começa em casa e precisa ser transformado. A delegada Sileide de Azevedo, coordenadora das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher do Estado (Coordeam-PB), lembrou que a Paraíba conta, hoje, com 21 Delegacias da Mulher.

“Estamos diariamente de portas abertas, para acolher as mulheres vítimas de violência e trabalhamos com profissionais comprometidos com a causa, qualificados e preparados para esse acolhimento, para que, chegando à delegacia, as mulheres sejam fortalecidas para romper esse ciclo”, destaca a delegada.

A coordenadora do Centro da Mulher 8 de Março, Irene Marinheiro, destacou que a maioria dos casos de violência ocorre dentro de casa, praticados por pessoas de confiança das vítimas. De janeiro a julho deste ano, o Disque 180 recebeu 86 mil denúncias. Ela defende o engajamento da sociedade na luta contra a violência de gênero, com educação igualitária e incentivo à denúncia, mesmo de forma sigilosa.

A Escola Cidadã Integral Técnica de Ensino Fundamental e Médio (Ecit) Daura Santiago recebeu palestras e ações do Cendac sobre violência doméstica. O diretor André do Egito afirmou que o tema é essencial no ambiente escolar e debatê-lo promove mudanças na consciência dos alunos, muitos vindos de áreas carentes. Segundo ele, exercícios escolares como redações revelam vivências pessoais ou da comunidade, antes não reconhecidas como violência, mas que, hoje, são percebidas a partir da informação recebida.

Também estiveram presentes no evento representantes da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (Sedh-PB), da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (Semdh-PB), da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres (SPM-JP), da Academia de Ensino da Polícia Civil (Acadepol-PB), do Conselho Estadual de Educação e de outros órgãos.

A história do Banco

A campanha internacional do Banco Vermelho teve início em 2016, na Itália, e foi trazida para o Brasil por duas pernambucanas, Andréa Rodrigues e Paula Limongi, que tiveram amigas assassinadas por seus companheiros em Recife (PE). A iniciativa propõe a instalação de bancos vermelhos em locais públicos de grande circulação de pessoas, como uma forma de lembrar, diariamente a sociedade, sobre a necessidade de ações concretas contra o feminicídio.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de agosto de 2025.