Neste mês, começaram a chegar às farmácias brasileiras as primeiras canetas emagrecedoras fabricadas no país. Os medicamentos, usados para o tratamento da obesidade (Olire) e do diabetes tipo 2 (Lirux), só podem ser adquiridos mediante prescrição médica, com acompanhamento especializado durante todo o tratamento.
As versões brasileiras são similares aos rótulos importados e, por isso, não são comercializadas apenas pelo nome do princípio ativo. Devido à fabricação nacional, os preços são mais acessíveis. Em uma farmácia de João Pessoa, a caixa com três unidades do Olire é vendida a R$ 866,25, enquanto a equivalente importada, Saxenda, custa R$ 1.084,59, também com três unidades.
Os lançamentos nacionais são fruto do laboratório EMS, que produziu as canetas à base de liraglutida, princípio ativo presente em medicamentos conhecidos, como Victoza e Saxenda, fabricados pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk. A aprovação da EMS foi concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim de dezembro, tornando a empresa a primeira fabricante 100% brasileira a ingressar no mercado global de análogos de GLP-1 — hormônio fundamental na regulação do açúcar no sangue e do apetite.
A EMS, em nota oficial, ressalta que, “diferentemente de um genérico, a liraglutida da EMS foi aprovada pela Anvisa como um novo medicamento de ingrediente ativo já registrado no Brasil, fruto de uma inovação tecnológica exclusiva no país”.
Indicação e regulação
A liraglutida, utilizada nos medicamentos brasileiros, e a semaglutida, presente em medicamentos como Ozempic, pertencem à mesma classe e imitam a ação do hormônio GLP-1. A principal diferença entre elas está na duração do efeito. A liraglutida é de ação diária, exigindo aplicação todos os dias, enquanto a semaglutida tem efeito prolongado e pode ser administrada uma vez por semana. Ambas, porém, exigem prescrição médica.
Segundo o médico Emanuel Santana, especialista em emagrecimento, a indicação desses medicamentos é feita de forma específica. “Primeiro, podem ser usados em pacientes com diabetes tipo 2, para auxiliar no controle glicêmico. Algumas dessas substâncias também são liberadas para o tratamento da obesidade, beneficiando os pacientes porque, além do controle da glicemia, ajudam a controlar a fome. Portanto, a indicação deve ser criteriosa”, alerta.
A venda desses medicamentos é regulada pela Anvisa e só ocorre com receituário controlado, sujeito a retenção de receita e limitação de quantidade, conforme prescrição médica.
Emanuel Santana explica que a semaglutida e a tirzepatida permanecem no organismo por sete dias, o que permite aplicação semanal, com dosagens definidas conforme orientação médica.
No caso da liraglutida, princípio ativo das canetas emagrecedoras fabricadas no Brasil, a aplicação é diária, com dose escalonada semanalmente, começando em 0,6 mg e podendo chegar a 3 mg, também conforme prescrição médica. As injeções, segundo o especialista, são aplicadas por via subcutânea no abdômen, coxa ou parte superior do braço.
O médico ainda acrescenta que os medicamentos nacionais contêm liraglutida, a mesma presente na Saxenda ou Victoza, diferenciando-se daqueles cuja base é a semaglutida, que apresentam maior potencial de perda de peso.
Emagrecimento e efeitos
Emanuel Santana relata que esses medicamentos são seguros desde que usados com acompanhamento médico adequado. Contudo, seu uso pode causar efeitos colaterais, como enjoo, náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia. Menos comuns são dores de cabeça e no corpo. Em casos raros, podem ocorrer gastroparesia — paralisação do estômago e intestino —, causando fortes dores abdominais. O uso indiscriminado pode levar a complicações graves, como pancreatite (inflamação do pâncreas). Por isso, a indicação desses medicamentos não deve ser banalizada, especialmente para fins estéticos.
O médico enfatiza que o medicamento, isoladamente, não é suficiente para a perda de peso. O tratamento deve ser associado a mudanças no estilo de vida. “O paciente deve praticar atividade física, manter uma alimentação saudável, acompanhada por nutricionista, e buscar tratamento para ansiedade ou compulsão alimentar, se necessário. O tratamento deve ser multidisciplinar, não apenas medicamentoso”, alerta.
Além disso, sem essas mudanças no estilo de vida, após o término do uso dos medicamentos, há grande chance de recuperação do peso perdido. “É fundamental uma reeducação alimentar e comportamental”, conclui Emanuel Santana.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de agosto de 2025.